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Entrevista com Dom Adimir Antonio Mazali ao completar 5 anos de ministério episcopal na Diocese de Erexim

  • Foto do escritor: Najaska - Jornalismo
    Najaska - Jornalismo
  • 11 de jul.
  • 18 min de leitura

*Reprodução de entrevista concedida ao jornal “Comunicação Diocesana – Julho 2025”


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Neste mês de julho, a Diocese de Erexim celebra com alegria os cinco anos de ministério episcopal de Dom Adimir Antonio Mazali entre nós. Desde sua posse, em julho de 2020, nosso Bispo Diocesano tem conduzido o povo de Deus com espírito de serviço, zelo pastoral e esperança, em sintonia com a missão de uma Igreja sinodal, viva e missionária. Nesta edição especial, Dom Adimir partilha conosco suas experiências, desafios, alegrias e perspectivas para o caminho da nossa Igreja diocesana.


I. Introdução e Memória da Posse


1. Dom Adimir, quais lembranças o senhor guarda do dia de sua chegada no Rio Grande do Sul, vindo do Paraná, e de sua posse como bispo da Diocese de Erexim?

Lembro dos últimos dias em Cascavel, arrumando as malas para a mudança ao Rio Grande do Sul. Na saída, comecei a contemplar o que estava deixando para trás e a sentir quão necessário o desprendimento para a missão. Foi uma longa viagem. Conversava com o padre que me acompanhava, e as lembranças da missão anterior vinham à mente. Quando chegamos ao Goio-Ên, ele disse: “Do outro lado do rio é a Tua Diocese”. Tínhamos combinado que ali eu faria uma oração pedindo a intercessão de São João Paulo II, meu modelo de ministério. Ao cruzar o rio Passo Fundo, ajoelhei-me, como fazia São João Paulo II ao visitar os países, rezei e beijei o chão da nova Diocese — gesto que acabou registrado e compartilhado. Era um momento emocionante, de coração dividido, mas feliz.

Chegando à cidade, tudo era novo. Por volta das 18h, fomos recebidos na Cúria pelos padres Antoninho, Alvise, Cleocir Bonetti e funcionários. Acolhida bonita, mesmo com o distanciamento devido a pandemia. Depois, descarregamos a mudança na casa episcopal. Estranhava a nova morada, lembrando do apartamento em Cascavel, mas tudo ocorreu com serenidade. Guardo a memória de uma chegada marcada por carinho e gratidão, agradecendo pela história deixada e pedindo luzes para a nova missão.

No dia 12 de julho foi a posse. Com a pandemia, todos usavam máscaras. Cheguei à Catedral com o Pe. Gustavo Marmentini, de Cascavel. Havia controle de entrada, listas, distanciamento. Estava ansioso — sou tímido —, pois presidiria a missa com outros bispos. Mas tudo correu bem, creio que pela ação generosa do Espírito de Deus. A celebração foi bela, com a presença de pessoas do Paraná e da Diocese, limitada a cerca de 200 pessoas. O Pe. Sala e o coral animaram a missa. Foi um momento forte, de acolhida, gratidão e início da missão.


2. O que o senhor sentiu ao assumir a missão de suceder os bispos anteriores e tornar-se o novo pastor desta Igreja particular?

Ao assumir a missão como novo pastor desta Igreja particular, confesso que não tinha muita noção do que seria suceder a outros bispos. A mudança de padre para bispo acontece de forma tão rápida que me vi diante de uma realidade nova. Sentia que era necessário conhecer e respeitar a história da Diocese, dar continuidade à missão construída, mas com a consciência de que não poderia simplesmente repetir o que foi feito. Eles fizeram muito. Eu estava apenas chegando, ainda aprendendo a ser bispo em meio à pandemia.

Meu sentimento era de gratidão por tudo o que foi edificado ao longo de quase 50 anos, e ao mesmo tempo e cheio do desejo de corresponder aos anseios do presente. Eu sabia que faria do meu jeito, com meu modo de ser, colocando minhas forças a serviço dessa missão. Hoje, ao olhar para esses cinco anos, vejo os desafios que surgiram e a necessidade constante de responder com fidelidade ao que me foi apresentado e ao que surge a cada momento.


II. Missão Pastoral e Caminhada Sinodal


3. Quais foram os principais desafios pastorais que encontrou ao iniciar seu episcopado na Diocese?

Nesses cinco anos, enfrentei diversos desafios pastorais. Um dos primeiros foi o secularismo crescente, marcado pelo distanciamento do povo em relação à Igreja. Sinto dificuldade em compreender por que tão poucos participam da missa aos finais de semana. A presença fervorosa que conheci anteriormente já não se repete — só se nota igreja cheia em momentos como crismas ou outras muito específica. É um desafio cativar novamente o povo para a vida litúrgica e comunitária.

Outro ponto crítico é a pastoral familiar. O número de casamentos sacramentais é muito baixo, revelando o quanto o matrimônio tem sido esquecido. Falta também uma cultura vocacional mais forte: temos poucos padres e vocações. A juventude, infelizmente, está ausente da vida eclesial, e mesmo a formação de lideranças encontra resistência — há poucas pessoas dispostas a assumir responsabilidades nas comunidades.

Vejo ainda o desafio de resgatar valores cristãos, com mais seriedade na vivência da doutrina e dos sacramentos. Soma-se a isso o êxodo rural, que enfraquece comunidades do interior. Por fim, sentimos a falta da vida religiosa, especialmente feminina. Com poucas religiosas e idade avançada das que estão entre nós, carecemos desse testemunho precioso. São desafios que reconheço desde o início do meu episcopado, e que continuam nos exigindo atenção e ação concreta.


4. De que forma o senhor percebeu a acolhida do clero, das lideranças e do povo de Deus nesses primeiros anos?

Sinto que fui bem acolhido pelo clero. Procuramos dialogar e caminhar juntos no espírito de sinodalidade, atentos às necessidades da Diocese. É natural que alguns sejam mais próximos, outros mais distantes, mas posso afirmar que fui recebido com respeito e abertura. Reconheço meus limites — sou uma pessoa mais reservada —, o que talvez crie barreiras em certos momentos. Ainda assim, amo muito o clero e procuro dar atenção a todos. Sinto-me feliz e acolhido, mesmo com as limitações próprias e naturais de cada um.

Com relação às lideranças, não tenho encontrado dificuldades significativas, salvo situações pontuais, como decisões que exigem mudanças — especialmente quando há apego a tradições do tipo “sempre foi assim”. No geral, o acolhimento do povo de Deus tem sido muito positivo. Já visitei mais de 350 comunidades em visitas pastorais, e em todas encontrei alegria, disposição e generosidade. Por isso, digo com certeza: fui e estou sendo muito bem acolhido. Isso me motiva a viver o ministério com entusiasmo, em missão e comunhão com clero e o povo de Deus.


5. Como a Diocese de Erexim se inseriu no processo sinodal proposto pelo Papa Francisco?

Somos uma Igreja que já caminha há muito tempo no espírito de participação e diálogo. Em relação ao Sínodo, tivemos boa adesão: muitas comunidades responderam às perguntas propostas, e a equipe diocesana preparou a síntese enviada à Igreja no Brasil. Acompanhamos o processo com empenho.

Na prática, esse espírito sinodal se concretiza na organização da Diocese. Criamos e fortalecemos conselhos de participação — como o Conselho de Pastoral e o Conselho de Assuntos Econômicos — tanto nas paróquias quanto na estrutura diocesana. Temos também o Conselho Presbiteral, o Colégio de Consultores, a Coordenação de Pastoral, o Conselho de Formadores, Comissões Diocesana de liturgia, Comissão de Tutela de Vulneráveis e até uma Comissão para investigação de fenômenos supostamente sobrenaturais. Tudo isso expressa a escuta, o discernimento e o caminhar conjunto.

O processo sinodal acontece como metodologia de escuta e corresponsabilidade: nas reuniões do clero, das áreas pastorais, das pastorais e movimentos, buscamos respostas para os desafios. Mais que uma estrutura, vivemos o Sínodo como experiência concreta de comunhão fraterna e diálogo constante.


6. Como o senhor vê estes primeiros meses do pontificado do Papa Leão XIV?

Nesses primeiros meses do pontificado do Papa Leão XIV, tenho me sentido muito feliz. Vejo nele um esforço de diálogo e unidade, dando continuidade ao legado do Papa Francisco — que já havia iniciado uma caminhada muito bonita e profunda na Igreja. Agora, com características próprias, o Papa Leão segue essa missão com um estilo mais sereno e reservado, típico de sua formação agostiniana, que complementa a herança jesuíta de Francisco.

Percebo nele uma intenção clara de reconciliar visões diferentes dentro da Igreja, superando a polarização entre os chamados progressistas e conservadores. A Igreja não pode ser dividida, mas deve unir forças para responder aos desafios do mundo atual, sem esquecer sua história e tradição. O Papa Leão nos recorda que a fidelidade ao Evangelho exige equilíbrio entre inovação e raiz.

O verdadeiro ponto de partida é sempre o encontro com Jesus Cristo — é dele que brota a missão. Não é a missão que nos leva a Jesus, mas é o encontro com Ele que nos impele à ação evangelizadora. Essa tem sido a marca do seu pontificado: espiritualidade profunda, continuidade e renovação da missão da Igreja no tempo presente. Vivemos um tempo de graça, no qual somos chamados a unir fé, tradição e compromisso com o mundo de hoje.


III. Evangelização e Vida das Comunidades


7. Quais iniciativas pastorais ou projetos evangelizadores o senhor destacaria como frutos destes cinco anos?

Nestes cinco anos, destaco alguns projetos significativos. Um dos principais é a Adoração Perpétua, em que cada paróquia dedica um dia ao Santíssimo Sacramento, reforçando a espiritualidade eucarística como centro da vida cristã. Outro projeto importante é a retomada do Seminário Menor, parte de um esforço para fortalecer a cultura vocacional, tão essencial à vida da Igreja. Nesse campo, também avançamos com a formação e ordenação de diáconos permanentes — fruto de um trabalho que amadureceu com o tempo.

Na área da pastoral familiar, buscamos implantar uma preparação personalizada para o matrimônio, com base na metodologia da CNBB, e incentivar a regularização de casais em segunda união, com apoio da Câmara Eclesiástica e do Tribunal da Província.

Também temos investido na organização patrimonial da Diocese, com regularização de terrenos e projetos que visam à sustentabilidade econômica diante das limitações do dízimo.

Outro esforço importante é o fortalecimento do Santuário Diocesano de Nossa Senhora de Fátima como espaço de espiritualidade e piedade popular. E, por fim, mas essencial, está o projeto de formação: leigos, clero e seminaristas têm sido acompanhados com zelo para garantir uma Igreja bem preparada e fiel à sua missão.


8. Como o senhor vê a evangelização na vida das comunidades mais afastadas ou rurais?

 Mesmo com comunidades pequenas — às vezes com apenas duas ou três famílias —, os padres têm garantido o atendimento pastoral, celebrando a Eucaristia e acompanhando os fiéis. Há lugares com limitações, onde faltam até mesmo pessoas para organizar a liturgia, mas o compromisso do clero tem sido constante. Nas visitas pastorais que tenho realizado, também faço questão de ir a todas as comunidades, independentemente da distância ou do número de participantes. A meta é visitar todas até a metade de 2026.

Reconheço que muitas dessas comunidades enfrentam um esvaziamento: idosos migram para a cidade por questões de saúde e cuidado, e algumas localidades já não possuem lideranças ativas — o padre acaba assumindo tudo. Apesar disso, a evangelização segue viva, especialmente pela presença da Igreja nos momentos mais significativos da vida das pessoas. O desafio é manter essas comunidades animadas e com esperança, mesmo diante da possibilidade de que algumas venham a desaparecer no futuro.


9. E no ambiente urbano, como o senhor vê os desafios e esperanças para a Evangelização?

Na realidade urbana da Diocese, especialmente em Erechim — o maior centro —, enfrentamos desafios importantes. A cidade cresce, surgem novos bairros e comunidades, e o número de padres não acompanha esse ritmo. Temos investido na compra de terrenos para futuras comunidades e paróquias, prevendo esse crescimento. Porém, o grande desafio urbano está no centro da cidade: há lideranças bem formadas, mas uma participação instável e pontual do povo nas celebrações. A assiduidade ainda é baixa.

Nos bairros, apesar da escassez de lideranças, há mais encontros e envolvimento. No centro, mesmo com boa estrutura pastoral, falta envolvimento contínuo. Outro desafio é alcançar os moradores de edifícios e novas áreas — muitos não têm ligação com a comunidade e o número reduzido de padres dificulta as visitas.

Também enfrentamos a realidade social: o comércio aberto aos domingos obriga muitos a trabalharem nesse dia, impedindo a participação da comunidade. Não se pode exigir que alguém deixe de ganhar o pão para participar da celebração. Por isso, temos investido em meios de comunicação, como rádio e internet, para levar a evangelização a quem não pode estar fisicamente presente. Ainda que os sinais de retorno à Igreja sejam pequenos, não perdemos a esperança: queremos ser uma Igreja viva e esperançosa no coração das cidades.


10. Como a catequese e a juventude têm sido acompanhadas e renovadas nesse período?

Tanto a Catequese quanto a Juventude, assim como as pastorais e movimentos, têm sido acompanhados pela coordenação diocesana da ação evangelizadora, especialmente com o trabalho do Pe. Jair Carlesso nos últimos anos. Apesar disso, há desafios: falta uma linguagem mais cativante para as crianças e uma ação pastoral juvenil mais atrativa. Muitos grupos de jovens existem, mas atuam de forma isolada e não se vinculam à pastoral da juventude, que já foi forte no passado, mas hoje carece de renovação em suas propostas e metodologias.

A esperança vem de movimentos como Cursilho, EJC, CLJ e Renovação Carismática, que têm atraído jovens com uma espiritualidade e dinâmicas mais envolventes. Há o desejo de fazer um levantamento mais profundo sobre os anseios da juventude, o que poderia abrir caminho para uma retomada efetiva da pastoral juvenil.

A catequese também é um desafio, e a chave está em evangelizar a partir da família. Trabalhar com as famílias atinge não só as crianças e adolescentes, mas também jovens e novos casais. Após o impacto da pandemia, os avanços começaram a se consolidar nos últimos três anos. A caminhada é lenta, exige paciência e, em alguns casos, um recomeço. Mas seguimos propondo, acompanhando e acreditando que as respostas virão com o tempo.


IV. Clero, Leigos e Formação


11. Como o senhor avalia a caminhada do presbitério nestes cinco anos? Que alegrias e desafios destacaria?

Avalio como bonita a caminhada do presbitério neste período. Há sinais de maior proximidade e questionamentos positivos sobre a fraternidade presbiteral. Embora alguns padres se aproximem com mais discrição, percebo um esforço conjunto. Muitos foram formados há mais tempo, com uma espiritualidade e visão pastoral próprias, marcadas pela história da Igreja no Rio Grande do Sul, e isso merece respeito. Também temos alguns padres mais novos, com outras experiências, mas igualmente comprometidos.

Vejo com alegria que muitos projetos da Diocese têm sido abraçados por todos, demonstrando que a Igreja caminha com a participação do bispo, dos padres, religiosos, religiosas e leigos. No entanto, é preciso continuar investindo na formação e atualização permanente do clero, para responder aos desafios pastorais de hoje.

Nesses anos, enfrentamos a dor da perda de cinco padres, mas também celebramos a ordenação de um novo presbítero e de 14 diáconos permanentes. A retomada do seminário menor e o despertar de uma pastoral vocacional mais ativa são sinais de esperança. O grande desafio continua sendo a cultura vocacional: suscitar novas vocações para a vida da Igreja é uma urgência que todos devemos abraçar juntos.


12. Houve avanços ou mudanças na formação dos leigos e agentes de pastoral?

Não falamos propriamente em mudanças na formação de leigos e agentes de pastoral, mas em avanços e atualizações. Sempre tivemos iniciativas sólidas, como a Escola de Servidores, a Escola Catequética, a Escola de Teologia e os encontros paroquiais de formação. O que estamos fazendo é atualizar os conteúdos à luz da realidade atual da Igreja. Mudanças ocorrem naturalmente com o tempo — seja pela sucessão de bispos, de papas ou pelas exigências pastorais que surgem —, e isso se reflete na metodologia e nas prioridades.

Nosso esforço atual tem sido, além da continuidade formativa, renovar lideranças. Um exemplo concreto é a renovação dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão. Muitos já estão idosos, sentem o peso da missão, e buscamos envolver novos agentes, com mais vigor, para dar continuidade a esse serviço essencial. A formação, portanto, segue viva e necessária, com o desafio de atrair mais leigos que assumam, com renovado empenho, a missão nas comunidades.


13. Como a Diocese tem promovido a formação permanente dos padres, diáconos e consagrados?

Temos incentivado fortemente a formação contínua do clero na Diocese. Realizamos quatro reuniões anuais do presbitério, além do retiro anual, da formação regional e dos encontros regionais e nacionais de presbíteros. Como bispo referencial dos presbíteros do Regional Sul 3, acompanho de perto essas iniciativas, envolvendo ativamente nossos padres e incentivando a participação. Desde minha chegada, promovemos a formação permanente, inclusive apoiando estudos de mestrado e doutorado, inclusive em Roma.

Os diáconos também têm participado de momentos formativos — alguns em conjunto com os padres, outros próprios, com encontros específicos para os diáconos e suas esposas, além do retiro anual. A vida consagrada tem sido envolvida nos encontros e reuniões pastorais da Diocese, e temos tido boa presença dos religiosos nesses espaços de comunhão e crescimento. A formação tem sido prioridade na caminhada diocesana.

A formação permanente das religiosas e consagradas é um desafio maior, por ser algo muito próprio das congregações. Contamos com o núcleo dos religiosos da Diocese, que promove encontros e momentos de formação, mas reconhecemos as limitações, especialmente pela idade avançada da maioria das irmãs presentes em nosso território. Apesar disso, sua presença continua sendo muito significativa e valiosa para a vida da Igreja Diocesana.

A vida consagrada, tanto masculina quanto feminina, é um testemunho importante de seguimento a Jesus Cristo. As religiosas, em particular, mesmo idosas, seguem dedicadas, com zelo e amor à missão e à vida da Igreja. Embora hoje participem menos diretamente das pastorais, o testemunho de sua vocação permanece como um sinal forte de fidelidade e serviço ao Evangelho. Valorizamos e reconhecemos sua contribuição histórica e atual em nossa Diocese.


V. Administração e Sustentabilidade


14. Quais ações foram feitas em relação à administração e sustentabilidade econômica da Diocese e das paróquias?

A administração econômica da Diocese e das paróquias tem sido um desafio constante, mas estamos avançando com seriedade e organização. Temos projetos de sustentabilidade e investimentos que envolvem a revisão do patrimônio: desfazendo-nos de bens ociosos e aplicando recursos de forma que gerem frutos para a missão da Igreja. O Conselho Econômico, o ecônomo e as equipes responsáveis trabalham conosco com empenho e responsabilidade.

Temos buscado sempre a transparência e o uso consciente dos recursos — cientes de que são fruto do esforço do nosso povo, especialmente por meio do dízimo. O maior pecado seria desperdiçar ou esbanjar esses recursos. Por isso, somos exigentes com a gestão, prezando pela honestidade e fidelidade às leis civis e canônicas. Promovemos reuniões com conselhos paroquiais e visitas às comunidades, reforçando a importância da coerência e da responsabilidade na administração. O cuidado com os bens da Igreja é, acima de tudo, respeito pelo sacrifício de quem partilha com generosidade.


15. Houve reestruturações ou reorganizações pastorais no território diocesano nesse tempo?

A reorganização pastoral na Diocese é motivada especialmente pela distribuição e transferências de padres. Algumas paróquias, como Aratiba e Sede Dourado, são atendidas conjuntamente por dois sacerdotes, o que revela a necessidade de ampliar o número de presbíteros. Outra mudança foi a reestruturação da Paróquia São Francisco de Assis, no Bairro Progresso, que deixou de ser uma “rede de comunidades” para assumir o modelo de paróquia tradicional, com sede e casa paroquial própria.

A experiência de rede, embora bem-intencionada, mostrou-se limitada: as comunidades tendem a funcionar de modo muito autônomo, sem senso de pertencimento à paróquia como unidade pastoral. A mudança, ainda que mais administrativa e de nomenclatura, visa fortalecer a identidade e a atuação pastoral. Temos buscado também o apoio de padres religiosos — como os saletinos em Três Vendas — para liberar presbíteros diocesanos e atender outras demandas da Diocese. A reestruturação continua sendo uma resposta prudente diante da realidade atual. Temos realizado tudo isto consultando e dialogando com os conselhos próprios de cada setor envolvido.


VI. Comunicação e Novas Realidades


16. Como o senhor avalia a presença da Diocese nos meios de comunicação e nas redes sociais?

Embora a Diocese conte com duas rádios — Aratiba FM e Virtual FM —, a presença da Igreja nos meios de comunicação ainda é tímida. As rádios exercem um papel importante na evangelização, mas o alcance permanece limitado, especialmente por falta de pessoal, inclusive entre os padres, para assumir com mais vigor essa frente missionária.

Nos demais meios, como entrevistas e boletins, a presença é esporádica. A cidade e a Diocese ainda são muito centradas no rádio como meio principal, e mesmo aí o espaço é modesto. Temos site e redes sociais, mas ainda com pouca atualização e investimento. Há necessidade de formar uma equipe dedicada à comunicação, especialmente para fortalecer a evangelização no ambiente digital. Estamos em um estágio inicial nesse processo, mas reconhecemos que é um caminho urgente a ser trilhado e um grande desafio a ser enfrentado.


17. A pandemia marcou uma parte significativa desses cinco anos. Como a Diocese reagiu a esse tempo difícil?

Nos últimos cinco anos, dois deles foram profundamente marcados pela pandemia, o que limitou a vida comunitária e reduziu o ritmo da ação pastoral. A Igreja não parou, mas teve sua presença fortemente restringida. Muitas pessoas não retornaram à vida das comunidades, mantendo o hábito de acompanhar celebrações apenas pela televisão ou rádio. Isso gerou uma perda do sentido de pertença, o que se tornou um dos maiores desafios atuais.

Hoje, nosso esforço é recuperar esse vínculo, motivando os fiéis a retomarem sua participação ativa. A pandemia afetou também a própria caminhada episcopal: muitos projetos foram adiados ou não puderam ser realizados no tempo previsto. Agora, procuramos recuperar o que foi interrompido, com esperança de que, aos poucos, a Diocese reencontre seu ritmo pastoral e comunitário em todos os setores. Sabemos que este desafio não se restringe à Diocese de Erexim, mas a Igreja como um todo.


18. Nosso Estado sofreu gravemente com as enchentes em 2023 e 2024. Como a Diocese atuou nesta difícil situação?

A Diocese, por meio da Cáritas e das paróquias, tem demonstrado uma forte presença solidária diante das tragédias climáticas que atingiram o Rio Grande do Sul nos últimos anos. Houve grande mobilização do povo, com doações significativas de alimentos, roupas, calçados, brinquedos, cobertores e recursos financeiros. Essa generosidade foi marcante tanto em 2023 e 2024 quanto agora, diante das enchentes que afetam novamente o estado em 2025.

Seguimos organizando iniciativas para auxiliar os mais necessitados, especialmente nas regiões Sul e Central, duramente atingidas. Agradecemos profundamente a todos que colaboraram e continuam colaborando. A fé cristã se expressa também pela solidariedade, e é com esse espírito que seguimos atuando, unidos ao sofrimento e à esperança de nossos irmãos e irmãs.


VII. Testemunhos e Espiritualidade


19. O senhor poderia partilhar alguma experiência marcante ou comovente vivida nestes cinco anos como bispo de Erexim?

Nesses cinco anos, além de muitas experiências novas, três aspectos me marcaram profundamente como bispo.

O primeiro foi a oportunidade de participar, pela primeira vez, da visita “Ad Limina” em Roma, juntamente com os Bispos do Regional, visitando os Dicastérios (setores) em Roma e nesta, a audiência com o Papa Francisco. Foi um encontro de diálogo e muito fraterno.

O segundo foi a fé viva e tocante do povo nas romarias, especialmente à Nossa Senhora de Fátima. Lembro com emoção das procissões realizadas mesmo sob chuva, com fiéis de pés no chão, cumprindo promessas e expressando uma devoção genuína. A presença nas novenas, nas celebrações e nos santuários, como também em Marcelino Ramos e na Romaria de Nossa Senhora da Salette, revela uma piedade popular autêntica, que fortalece a missão da Igreja.

O terceiro aspecto foi a solidariedade do povo diante das enchentes que atingiram o estado. Sempre que a Diocese fez apelos, a resposta foi surpreendente: doações abundantes, gestos concretos de apoio, participação de voluntários. Esse testemunho de generosidade confirma que o coração do nosso povo continua sensível ao sofrimento dos irmãos. Fé e caridade caminham juntas.

Estes momentos foram sinais muito forte da presença de Deus em minha missão episcopal.


20. Que papel a espiritualidade tem desempenhado no seu pastoreio diário e nas decisões tomadas?

A espiritualidade é o fundamento da minha vida e missão episcopal. A oração diária e a celebração da Eucaristia são centrais para mim. A exemplo de Jesus, nunca tomo decisões importantes sem antes colocá-las em oração, seja em minha intimidade ou em comunhão com as comunidades. A vida espiritual é minha força e meu critério de discernimento.

Tenho profunda devoção a São João Paulo II, a quem recorro frequentemente como intercessor e modelo. Sua vida e seu testemunho marcaram minha caminhada, especialmente pela sua fidelidade à oração. No entanto, o modelo supremo para todo pastor é Jesus Cristo, o Bom Pastor. Assim como Ele, que sempre rezava antes de agir, acredito que toda decisão deve brotar do encontro com Deus.

A oração, o silêncio interior, a escuta da voz de Deus — tudo isso sustenta o ministério, seja episcopal, presbiteral, diaconal ou leigo. O encontro com Cristo é a fonte que alimenta a missão. Não é a missão que nos leva a Jesus, mas o encontro com Jesus que nos envia à missão e ao serviço dos irmãos e irmãs. Por isso, insisto: a espiritualidade deve estar em primeiro lugar, pois dela nasce toda ação verdadeira da Igreja.


VIII. Futuro e Esperança

21. Olhando para o futuro, quais são as principais esperanças e prioridades para a Diocese nos próximos anos?


Estamos na expectativa das novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, que certamente iluminarão a vida pastoral da Diocese. Entre as prioridades para os próximos anos, destaco a pastoral vocacional e a formação presbiteral como urgências e centrais. Precisamos de mais vocações, pois são os padres que darão continuidade à missão na Diocese e na Igreja.

Outra prioridade é investir na vida das famílias, pois, por meio delas, alcançamos crianças, jovens e fortalecemos o sentido de pertença às comunidades — especialmente após os impactos da pandemia. Também será essencial recuperar a participação do povo, que se distanciou, e criar condições de maior sustentabilidade pastoral e econômica. Por fim, o investimento contínuo na formação de lideranças e do clero permanece como um compromisso indispensável para a vitalidade da Igreja local.


22. Que mensagem o senhor gostaria de deixar aos fiéis da Diocese neste momento de celebração dos cinco anos de seu ministério?

Minha mensagem aos fiéis da Diocese, neste momento de celebração dos cinco anos, é de profunda gratidão. Se hoje sou bispo, é porque recebi uma missão confiada pela Igreja. Recordo as palavras de Santo Agostinho: “Para vós sou bispo, convosco sou cristão”. Quero continuar caminhando com todos neste espírito de sinodalidade, mantendo a comunidade sempre presente em minhas orações diárias.

Sou grato pela acolhida, pela história já construída, pelos frutos destes cinco anos e por tudo que ainda realizaremos juntos, sempre para o bem do povo e para a glória de Deus. Que nossa missão seja uma resposta fiel ao projeto divino para a nossa Diocese. Que possamos seguir os passos de Jesus e vivendo o espírito jubilar, sejamos homens e mulheres de esperança, respondendo com generosidade ao que Deus espera de cada um de nós.


IX. Palavra Final


23. E para concluir, o que mais o senhor gostaria de partilhar que talvez não tenha sido perguntado, mas que considera importante nesse momento de avaliação e gratidão?

Ao concluir esta entrevista, quero expressar minha gratidão e também pedir compreensão. Nestes dois anos e meio de visita pastoral, já percorri mais de 350 comunidades, além de ministrar o Sacramento da crisma, visitar administrativamente paróquias, participar de eventos e cumprir compromissos fora da Diocese, como assembleias e encontros presbiterais. Dedico a maior parte possível do meu tempo ao serviço da Diocese, ainda que nem sempre consiga estar presente em todos os eventos e lugares que seriam desejáveis.

Reconheço minhas limitações, por isso peço perdão se, em algum momento, não correspondi plenamente às expectativas. No entanto, posso afirmar que tenho me esforçado com sinceridade para atender às necessidades da vida diocesana. Agradeço profundamente pelo carinho e pelo sentido que cada comunidade dá ao meu ministério. O que foi realizado nesses cinco anos é motivo de gratidão, e o que ainda virá, colocamos nas mãos de Deus com confiança. Suplicando a intercessão de São José, nosso padroeiro, peço que Deus abençoe a todos!

 
 
 

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